CASASRestauração com ar modernoO galpão de 1920, na Barra Funda, bairro paulistano pontuado por indústrias, caiu nas graças de uma arquiteta. Empolgada com a fase de recuperação da área, ela comprou o imóvel de 76 m² e o transformou em casa e escritório.
Por Danilo Costa e Eliana Medina
Fotos: Victor Affaro
Ilustrações: Fábio FlaksA efervescência da Barra Funda e o desejo de viver perto do centro de São Paulo seduziram a professora Maria Luiza Corrêa, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) -
ela conta sua história em vídeo. Mas quando ela arrematou esta construção, com um galpão e uma pequena casa, algo além do local lhe chamou a atenção: "Adoro o visual de ruína", confessa a arquiteta. "Mais do que a forma, o que me agrada numa arquitetura é a sua vivência no espaço, no tempo", completa. A reforma de um ano, projetada e executada por Maria Luiza, demorou para sair do papel, pois ela não sabia se usaria a casa apenas para trabalhar nem se moraria só. Por fim, o galpão virou um escritório e a moradia conquistou o mezanino de 20 m², quando o porão existente foi demolido. Em busca de conforto, a arquiteta bolou soluções para trazer luz e ventilação, sem alterar a memória do imóvel. "Procurei a requalificação do espaço, pensando num novo uso", conta. Entre as coisas mais curiosas está o fato de que ela
guarda o seu carro dentro da sala (como você assiste no vídeo) - já que o galpão abre direto para a rua e ela não queria perder área fazendo uma garagem. Se como essa moradora, você também gosta de viver na cidade, conheça mais
26 fachadas de casas urbanas e as suas histórias.

Na fachada, a arquiteta sobrepôs pranchas de concreto usinado (Concremix) à alvenaria antiga. Basta abrir o portão para entrar na garagem, que fica dentro do escritório.

No piso, a massa de epóxi vermelho (Duron Piso, da Tintas Ancora) facilita a limpeza. No restante, assoalho de ipê (Recoma). Janelas de correr laterais (Divinal Vidros) e textura acrílica com efeito caiado (Anil Tintas).

Galpões tendem a ser escuros e abafados. A arquiteta evitou esses inconvenientes com boas idéias:
1. Cinco basculantes (1,10 x 0,95 m cada um) compõem o portão de ferro desenhado por Maria Luiza. Combinados às aberturas da outra ponta, permitem a ventilação cruzada.
2. Telhas de vidro completam o telhado montado com modelos cerâmicos (Cia. das Telhas). Todas as peças são do tipo capa-e-canal com encaixe alternado. “A cobertura parece solta das paredes”, explica a moradora. O forro é de garapeira (Madeireira Pau Pau).

Uma laje de concreto armado comporta o mezanino de 20 m². Nele, está o quarto integrado ao banheiro e à cozinha graças a duas boas idéias:
3. A porta de compensado sanfonada (Móveis Canteiro) garante a privacidade na suíte. É completada por uma folha pivotante.

4. A parede de alvenaria centralizada liberou passagens laterais para o banheiro. Essas áreas têm portas de correr de vidro (Divinal Vidros).

Totalmente expostos pela ausência de divisórias, o armário e as prateleiras ficam concentrados numa única parede. Foram executados pela Móveis Canteiro com cedrinho e laminado. No piso, ladrilhos hidráulicos de 20 x 20 cm (modelo Margarida, da Ladrilar).

Diferentemente da entrada limpa, a fachada dos fundos traz um jogo de volumes.

A parede ao fundo tinha algumas áreas fechadas (na foto, o lado esquerdo), que Maria Luiza abriu para trazer luz. A porta da cozinha era a janela do porão e cresceu de tamanho. Essas adaptações exigiram o restauro de alguns trechos de tijolos, onde a arquiteta usou uma argamassa de barro semelhante ao tipo adotado na época. Tudo para manter a história da construção.

Como a construção está perto da rua, Maria Luiza deixou a área de trabalho na frente. Ela manteve o corredor lateral a fim de ter uma entrada mais reservada. Ocupado por inteiro, o terreno de 7,75 x 37 m foi dividido em quatro módulos: o escritório, a cozinha – que perdeu duas paredes para parecer maior – o pátio e a edícula de 32 m², erguida nos fundos do lote. Ela é uma moradia independente, concebida para o filho da arquiteta.
Publicado Casa.com (11/2008)
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